14º DOMINGO DO TEMPO COMUM Santa Maria Goretti (1902)
Naquele tempo,
1 o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir.
2 E dizia-lhes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita.
3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos.
4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho!
5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!'
6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós.
7 Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa.
8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem,
9 curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: 'O Reino de Deus está próximo de vós'.
10 Mas, quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei:
11 'Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós'. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!
12 Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade".
17 Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: "Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome".
18 Jesus respondeu: "Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago.
19 Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal.
20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu".
Palavra da Salvação. Glória a vós, Senhor.
Comentário
O ensinamento de Jesus rompe os limites dos processos pedagógicos, onde o discípulo simplesmente assiste e segue uma série de instruções. Quem abraça a Boa Nova de Jesus não pode viver alheio à realidade ou adotar uma condição de passividade e silêncio. A missão do Reino implica libertar-se da dependência de tudo que escraviza e mantém vulnerável a vida das pessoas.
No Evangelho de hoje, Jesus envia os seus discípulos depois de ter tecido uma relação íntima com a sua pessoa e com o seu projeto. Depois de compreender e se apropriar de suas atitudes, é necessária renúncia a si mesmos. Ele quer que eles estejam conscientes da possibilidade e do risco de perder a vida por causa do anúncio e testemunho de um estilo de vida controverso e incômodo que vai contra a corrente do modelo social e religioso de vida da época. Neste ponto, nós nos perguntamos: estamos preparados para abraçar a missão itinerante de Jesus? Somos capazes de viver uma experiência de fé livre, austera e simples, que nos permite expulsar os demônios e curar os doentes? O que nos falta para nos tornar mais próximos do Reino de Deus aos mais pobres?
Como os discípulos de Jesus, que participam na missão evangelizadora, devemos ser capazes de nos desprender de um relativo conforto e preparar-nos para ir aonde ninguém quer ir, assumindo com paciência e coragem os desconfortos, os trabalhos e os esforços que o anúncio do Reino traz consigo. Naqueles inícios missionários, a motivação e a alegria são percebidas porque brota a esperança, nas palavras, nos gestos e nas manifestações de fé que transformam a realidade da dor e do sofrimento em alívio e consolo que tornam a vida mais suportável.
Nos contextos de hoje, as situações de pobreza, violência e indiferença social muitas vezes nos fazem perder a esperança, e nos deixam imobilizados, além de matar de querer matar a nossa fé. Precisamos acreditar que existem alternativas e que outro mundo é possível. No entanto, Jesus nos ensina hoje que o fruto maduro dos discípulos de todos os tempos se chama satisfação de poder aliviar o sofrimento, reconhecer que o caminho da felicidade se chama domínio e da forma de exploração. Se eu quiser descobrir como está minha fé, devo questionar se a visão que tenho da realidade é objetiva e otimista. Além disso, a prova da minha comunhão com Jesus será o meu compromisso e envolvimento no sentido da superação de toda forma de injustiça, da dor e do sofrimento.
Pensamento do dia:
"Não é saudável amar o silêncio e evitar o encontro com o outro, desejar descanso e rejeitar a atividade, buscar a oração e desprezar o serviço" (GE 26).