Diário Bíblica Portugués

27 de Agosto de 2023

Primeira leitura: Is 22,19-23: 
Eu o farei portar aos ombros a chave da casa de Davi.
Salmo: Sl 137(138),1-2a.2bc-3.6.8bc (R. 8bc): 
R. Senhor, vossa bondade é para sempre! Completai em mim a obra começada!
Segunda leitura: Rm 11,33-36: 
Tudo é dele, por ele, e para ele.
Evangelio: Mt 16,13-20 (Confissão de Pedro): 
Tu és Pedro... e eu te darei as chaves do Reino dos céus.

Tema: 21º Domingo do Tempo Comum

Chegando ao território de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.

 

Comentário

 

O texto de Isaías refere-se, bem provavelmente, à época imediatamente anterior à primeira deportação. Recordemos que como represália a um intento de rebelião, o império babilônico exilou, no ano 597 a.C., grande quantidade de líderes da sociedade e os transladou a várias cidades e campos da Mesopotâmia. Isto significou um duro golpe para as pretensões da família monárquica que se considerava inamovível do trono.

A profecia de Natã que, na realidade, era uma exortação para que o rei se mantivesse fiel à vontade do Senhor, havia se convertido já na época de Salomão, num recurso ideológico para legitimar o monopólio do poder. Ao início do século VI a situação de Judá mudou completamente, com a entrada em cena do império babilônico, que teve a pretensão de criar um império por meio da submissão de todos os pequenos reinos e do controle das tribos dispersas por todo o chamado "Meia Lua Fértil". Jerusalém era apenas uma fortaleza a mais a ser conquistada.

A profecia de Davi dirige-se contra as pretensões da classe dirigente que se considerava proprietária perpétua do trono. O caso mais patético era o dos primeiros ministros, que substituíam o rei em sua ausência. Estes personagens, quase sempre provenientes da alta aristocracia, ganhavam singular importância quando podiam governar o país e receber todas as honras regularmente reservadas ao rei.

Parece que o mordomo do palácio real de Jerusalém, chamado Sobna, excedeu-se em suas pretensões e não se contentou em ostentar a 'faixa' do rei, mas fez das chaves do palácio o símbolo de seu crescente poder. Todas estas manifestações de arrogância punham em evidência quão arruinadas estavam as instituições monárquicas e o grau extremo de decadência no qual havia caído a corte. Isaías pronuncia um oráculo de condenação contra este ministro presunçoso, denunciando todas as arbitrariedades que havia cometido. Anunciou qual seria o fim de todas as suas façanhas. O que havia construído para si uma sepultura luxuosa, morreria num campo desolado em terras estrangeiras. A chave que o primeiro ministro ostentava, terminaria em mãos de outra pessoa mais capaz. Os caminhos do Senhor não são os do indivíduo orgulhoso e alienado. Tudo o que um sistema social constrói sobre a exploração, o abuso do direito e a falsidade, termina irremediavelmente condenado à insignificância.

Paulo, fazendo eco dos hinos à sabedoria, recorda a distância enorme que há entre as absurdas pretensões individualistas e megalomaníacas e o sábio desígnio de Deus que dispõe unicamente o que é proveitoso para o ser humano.

Essa contraposição frente às desmedidas pretensões de certos indivíduos e grupos sedentos de poder e os insondáveis caminhos do Senhor, faz-se patente no episódio do evangelho. Na metade do caminho a Jerusalém, ou seja, na exata metade do processo de formação dos discípulos, Jesus os interroga sobre aquilo que puderam captar no tempo em que os acompanhou e orientou.

As respostas nos surpreendem. De uma parte a multidão que segue a Jesus o identifica corretamente como um dos profetas. De outra, o grupo representado pela voz de Pedro o reconhece corretamente como Messias e Filho de Deus. No entanto, subsiste um problema de fundo: tanto a multidão como os discípulos querem impor a Jesus um estilo de ser profeta e uma maneira de ser Messias. Discípulos e multidão pedem o que é contrário à vontade de Deus e inconsequente com o ensinamento de Jesus. Pareceria que o enorme esforço de Jesus não tivesse surtido o efeito esperado, e que os discípulos, ao invés de mudar de mentalidade, teriam reforçado suas antigas e errôneas ideias. Entretanto, o evangelho quer nos mostrar que os discípulos ainda devem passar pela experiência da cruz para compreender o verdadeiro alcance das palavras e obras de Jesus.

Jesus é, sim, o Messias, mas não o Messias triunfalista e prepotente do nacionalismo exacerbado, mas uma pessoa a serviço das mais profundas causas humanas. Jesus, é sim, o profeta, mas não o profeta que anuncia a supremacia da própria religião ou da ideologia de seu grupo; é o profeta do amor, da justiça e da paz.

As três leituras nos mostram quão impredizíveis e certeiros são os caminhos de Deus e quão caducos e esquemáticos são os nossos trilhados caminhos. O evangelho nos convida a aprender de Jesus qual é o caminho autêntico que nos conduz ao Pai, porque "nem todo o que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus".

Oração
Ó Deus, nosso Pai, que unes os corações de teus fiéis num mesmo desejo: inspira a teu povo o amor à tua vontade e a firme esperança em tuas promessas para que, por entre as dificuldades da vida, mantenha sempre firme sua confiança em Ti e goze da verdadeira alegria. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Santo do Dia
S. Mônica
331-387 ? \"Mônica? significa \"solitária?, \"monja?

Natural de Tagaste, África, S. Mônica foi a mãe de S. Agostinho, que graças às insistentes orações e ao testemunho de fé da mãe se converteu ao amor de Jesus Cristo. É o exemplo da mãe cristã que não apenas gera filhos para o mundo, mas também, por tantas e tantas vezes, em meio a sofrimentos e lágrimas, os gera de novo para a vida de Deus. Para consolá-la, um dia lhe foi dita a célebre frase: \"Não se pode perder um filho de tantas lágrimas!? Rezando e mantendo-se firme na fé, Mônica gerou para a fé não só o rebelde filho, Agostinho, mas ainda o infiel marido, Patrício, que também se converteu e recebeu o batismo um ano antes de morrer.