Diário Bíblica Portugués

21 de Maio de 2023

Primeira leitura: At 1,1-11: 
Enquanto o acompanhavam com seus olhares, viram-no afastar-se para o céu.
Salmo: Sl 46(47),2-3.6-7.8-9 (R.6):
R. Subiu Deus, por entre aclamações, o Senhor, ao som das trombetas
Segunda leitura: Ef 1,17-23: 
Ele o ressuscitou dos mortos, fazendo-o sentar à sua direita no céu.
Evangelio: Mt 28,16-20: 
Ide, pois, e ensinai a todas as nações.

Tema: ASCENSÃO DO SENHOR (Solenidade)

Os onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda. Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.

 

Comentário

 

A primeira leitura da liturgia de hoje oferece-nos o relato da Ascensão do Senhor cujo objetivo fundamental é delinear os traços específicos da esperança cristã. Jesus, novo Elias, ascende aos céus e este fato não significa o fim da história desejado pelos discípulos, conforme se nota em sua pergunta: "Senhor, é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel?"

No salmo responsorial proclama-se a entronização de Deus como "imperador" e "rei" de toda a terra, e a carta aos cristãos de Éfeso liga o senhorio do Messias Jesus à compreensão que os membros da comunidade eclesial devem ter sobre a esperança "a que fostes chamados" (1,18).

O evangelho, final do relato de Mateus, volta a destacar essa conexão. Compreende as circunstâncias do último encontro entre Jesus e seus discípulos (vv. 16-17) e as palavras finais do Senhor à sua comunidade (vv. 18-20).

Sobre as circunstâncias, o texto situa a cena numa montanha da Galileia. Ocorre ali a teofania do Ressuscitado que deve se relacionar com a montanha da Tentação e com a montanha da Transfiguração. Antecipa-se, desta forma, o "Senhorio" de Jesus, tema principal que flui das palavras que este pronuncia. Por isto, é óbvio que a elaboração do texto não corresponde a uma simples narrativa histórica. O texto tem um objetivo teológico; não dá para imaginar que Jesus manifestasse neste "encontro" preocupações com seu próprio "senhorio".

Longe do centro do poder religioso, Jesus se encontra com os Onze. O número é o resultado da subtração de Judas da cifra original dos Doze discípulos e significa a totalidade dos seguidores de Jesus que não o abandonaram. Todos eles são beneficiários da experiência do Ressuscitado.

Envolvidos nesta experiência a atitude dos discípulos é uma mescla de adoração e de dúvida. Como Pedro debatendo-se contra as ondas (cf. Mt 14,23-33), a comunidade traz em seu seio estes dois sentimentos contraditórios. Estes são os dois únicos textos de Mateus que combinam os verbos que se referem a estes dois sentimentos.

As palavras de Jesus pretendem fortalecer a fé comunitária para uma tarefa em que estão implicados três personagens: Jesus, o grupo dos discípulos e "todos os povos". Falando de si mesmo, Jesus afirma que recebeu "toda autoridade no céu e na terra" (v. 18). Para o evangelista, a autoridade ocupa um posto importante na apresentação de Jesus. Este, no início de sua atividade, havia rechaçado a última proposta do diabo em ordem a receber "todos os reinos do mundo" (cf. Mt 4,8-10), os discípulos haviam visto atuante em Jesus o significado do poder divino, mas deviam mantê-lo em segredo (cf. Mt 16,28-17,9). Agora é o momento de Jesus proclamar esse "senhorio" recebido do Pai. É a visão/construção de Mateus.

Os elementos que destacam o universalismo são acumulados nesta breve passagem. Junto a "céu e terra" e a menção dos "povos" dá-se uma significativa repetição do termo "toda", "toda autoridade" (v. 18), "todas as nações" (v. 19), "tudo o que vos prescrevi" (v. 19), "todos os dias" (v. 20). A obediência à vontade divina confere a Jesus um senhorio universal que se exerce sobre toda realidade criada.

Este "relato vocacional" da comunidade eclesial descreve a transmissão que Jesus faz de "todo seu poder". Graças a ele podem convocar novos discípulos através do batismo e do ensino. Pelo batismo, Jesus havia iniciado o cumprimento definitivo da justiça do Reino (Mt 3,15); igualmente, o batismo cristão insere cada batizado na mesma dinâmica. Ao lado do batismo, o outro traço característico da existência cristã é o "ensino". Não se trata de uma teoria a ser proclamada, mas da Boa Notícia do Reino, frente à qual todo crente é um seguidor de quem se exige um comportamento coerente. Trata-se de "observar tudo o que vos prescrevi".

O mandato de Jesus compromete toda a comunidade eclesial e a responsabiliza frente a todas as nações. Embora tenha já iniciado no círculo dos discípulos, o senhorio de Jesus não pode esgotar-se no interior das comunidades cristãs. Para isso conta com a assistência de seu Senhor: "Estou convosco todos os dias". Esta assistência garante a coragem necessária para superar todos os temores e tempestades e confere um âmbito ilimitado para a atuação da salvação.

Para isso, entretanto, exige-se da Igreja a mesma obediência de Jesus. Somente opondo-se ao poder de domínio, na obediência filial ao Pai, poderá realizar sua tarefa. Este "manifesto" final do Senhor Ressuscitado liga intimamente a missão da Igreja ao caminho percorrido historicamente por Jesus de Nazaré, Homem e Deus.

Oração
Ó Deus, Pai nosso e de nosso irmão maior, Jesus; dá-nos teu Espírito de sabedoria, e ilumina os olhos de nosso coração, para que compreendamos qual é a esperança a que nos chamas, qual a riqueza da glória que dás como herança aos santos, e qual a extraordinária grandeza de teu poder para conosco. Por Cristo nosso Senhor.

Santo do Dia
S. Goderico
séc. XII ? eremita

Um dos relatos da vida de S. Goderico foi escrito por Reginaldo, monge de Durham, a quem contou de viva voz coisas de sua vida. Filho de camponês de Walpole, Inglaterra, antes de tornar-se eremita foi mascate, freqüentador de feiras em que comprava e vendia. Foi também navegante, viajando pela Europa inteira, sempre comprando e vendendo coisas. Um dia, impressionado por S. Cutberto, partiu para Jerusalém. Ao voltar, trabalhou na casa de um rico proprietário rural, mas, indignado pelas injustiças contra os pobres, abandonou tudo e partiu para o santuário de S. Gil e, depois, a Roma. Após conviver dois anos com o eremita Aelrico, que vivia nas regiões selvagens de Durham, partiu de novo em peregrinação a Jerusalém. Retornando à Inglaterra, estabeleceu-se perto do rio Wear, onde construiu um oratório, convivendo ali com animais selvagens, que em vez de ameaçá-lo abrigavam-se dos perigos, sob sua proteção. Era muito visitado pelos monges de Durham, entre os quais S. Aelredo e S. Roberto de Newminster. Possuía o dom da profecia e o conhecimento de acontecimentos distantes, que o fazia interromper suas conversas para orar por pessoas em perigo iminente. Morreu no dia 21 de maio de 1170.