Diário Bíblica Portugués

20 de Agosto de 2023

Primeira leitura: Ap 11,19a; 12,1-6a.10ab: 
Apareceu no céu um grande sinal.
Salmo: Sl 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b): 
À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir.
Segunda leitura: 1Cor 15,20-26.28: 
Entregará a realeza a Deus-Pai, para que Deus seja tudo em todos.
Evangelio: Lc 1,39-56 (Cântico de Maria): 
Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha visitar-me?

Tema: ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (Solenidade)

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!" Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu". Maria disse: "A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome! Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam. Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos. Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos. Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre". Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

 

Comentário

 

Bem na metade do mês de agosto, a alegria irrompe na liturgia da Igreja. No hemisfério norte, coincide - ou foi feito coincidir - com as festividades ancestrais da "onda de calor" do verão boreal. A alegria do amadurecimento das colheitas é um bom contexto para celebrar a plenitude da Assunção de Maria. Ela, a mãe de Jesus, é a "primeira cristã", deveria ser também a primeira a chegar até Jesus. A fé da igreja quis ver nela a confirmação definitiva de que nossa esperança tem sentido. De que esta vida, mesmo que nos pareça doente de morte, está realmente grávida de vida, de uma vida que já se manifesta em nós e que devemos celebrar aqui e agora. E, primeiramente, em Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe.

Na primeira leitura, encontramos um combate frontal entre a fragilidade de uma mulher prestes a dar à luz e a crueldade de um monstro perverso e poderoso que se apropriou de boa parte do mundo e quer arrebatar o filho da mulher. O Apocalipse faz um relato rico em simbolismo, no qual as comunidades cristãs podem ser representadas pela mulher, reconhecendo que um setor do cristianismo dos primeiros tempos tinha uma alta influência da pessoa de Maria e da presença feminina no meio delas, como sustentadoras da fé. Por outro lado, o monstro é um símbolo do aparato imperial. Com suas respectivas cabeças e chifres representa os tentáculos do poder civil, militar, cultural, econômico e religioso, que está determinado a eliminar o cristianismo, por sua natureza profética, já que se tornou incômodo para os poderosos da terra.

A segunda leitura abre maravilhosamente com uma metáfora da ressurreição de Cristo como primeiro fruto da colheita, e depois esclarece como todos os que vivem em Cristo, morrem em Cristo e também em Cristo ressuscitarão. É uma afirmação da vida plena para aqueles que assumem como próprio o projeto de Jesus e, nesse sentido, tornam-se participantes da Glória da ressurreição.

No Evangelho, o canto de alegria de Maria que se proclama no Evangelho torna-se nosso canto. Temos pouca informação sobre Maria nos evangelhos. Estudiosos nos dirão que, quase certamente, este cântico, o Magnificat, não foi pronunciado por Maria, mas é uma composição do autor do Evangelho de Lucas. Porém não há dúvida de que, mesmo sem ser histórico, reflete o sentimento autêntico de Maria, seus sentimentos mais profundos diante da presença salvadora de Deus em sua vida. Porém não há dúvida de que, mesmo sem ser histórico, reflete o sentimento autêntico de Maria, seus sentimentos mais profundos diante da presença salvadora de Deus em sua vida. É um cântico de louvor. Essa é a resposta de Maria à ação de Deus. Louva e agradece. Não se sente grande ou importante para si mesma, mas para o que Deus está fazendo através dela.

"Minha alma engrandece o Senhor." Maria goza dessa vida em plenitude. Sua fé a fez viver já em sua vida a vida nova de Deus. Há um detalhe importante. O que o evangelho nos conta não acontece nos últimos dias da vida de Maria, quando já supomos que ela experimentou a ressurreição de Jesus, mas antes do nascimento do seu Filho. Já naquele momento, Maria estava tão cheia de fé que confiava totalmente na promessa de Deus. Maria tinha certeza de que algo novo estava nascendo. A vida que ela carregava em seu ventre, ainda como embrião, era o sinal de que Deus havia posto em marcha e começado a agir em nome de seu povo.

Mais de uma vez, em alguma ditadura, esse canto de Maria foi considerado revolucionário e subversivo, e foi censurada. É certamente revolucionário, e sua mensagem tende a perturbar a ordem estabelecida, a ordem que os poderosos tentam manter a todo custo.

Maria, cheia de confiança em Deus, anuncia que Ele se colocou a favor dos pobres e deserdados deste mundo. A ação de Deus muda totalmente a ordem social do nosso mundo: derruba os poderosos de seu trono e exalta os humildes. Não é isso que estamos acostumados a ver em nossa sociedade. Nem mesmo no tempo de Maria. A vida de Deus é oferecida a todos, mas somente os humildes, aqueles que sabem que a salvação vem somente de Deus, estão dispostos a aceitá-la. Aqueles que se sentem seguros com o que têm perdem tudo. Maria soube confiar e estar aberta à promessa de Deus, confiando e crendo além de toda esperança.

Hoje Maria anima a nossa esperança e o nosso compromisso de transformar este mundo, para torná-lo mais como Deus quer: um lugar de fraternidade, onde todos possamos ter um lugar à mesa que Deus preparou para nós. Mas neste dia Maria anima, sobretudo o nosso louvor e ação de graças. Maria nos convida a ver a realidade com novos olhos e descobrir a presença de Deus, talvez em embrião, mas já presente ao nosso redor. Maria nos convida a cantar com alegria e a proclamar com ela a grandeza do Senhor.

Nota crítica. Neste ponto, é importante não falar da Assunção de Maria simplesmente como quem dá por suposto uma viagem quase espacial de Maria ao céu... Não é necessário parar mais uma vez na análise do tema dos «dois andares» da cosmovisão religiosa clássica... Mas é necessário, isso sim, mesmo com uma breve incisão, recordar aos ouvintes que não estamos descrevendo uma assunção literal, um translado físico, espacial, mas que estamos usando uma expressão metafórica, para que não se entenda mal tudo o que com uma bela estética bíblico-litúrgica, pudéssemos dizer sobre isso.

Certamente não entendia assim Pio XII, que em novembro de 1950 proclamou "ex cathedra" este "dogma", o primeiro proclamado por um "Pontífice romano" depois que o inacabado Vaticano I proclamou sua infalibilidade em 1870. Com um tom bem-humorado, o saudoso José María Díez Alegría disse que Pio XII não resistiu à tentação de apertar o botão da infalibilidade pontifícia, que até então não havia sido liberado. A verdade é que o botão não voltou a ser apertado por nenhum dos papas posteriores, e que o mesmo Concílio Vaticano II renunciou muito sensatamente ao declarar nenhum dogma.

O que neste sentido se poderia dizer explicitamente sobre o tema da “assunção” é o mesmo (e com maior razão) que se disse sobre a “ascensão”. Recomendamos este excelente texto de Leonardo Boff: http://www.servicioskoinonia.org/biblico/textos/ascension.htm

Oração
Ó Deus, nosso Pai, que levastes Maria a alcançar junto a Vós a mesma plenitude de vida de Jesus; nós Vos pedimos: concedei-nos que, sendo, como ela, fiéis no cumprimento de vossa vontade, cheguemos a participar nós também da glória da ressurreição. Por N. S. J. C. Amém.

Santo do Dia
S. Bernardo
1112-1153 ? abade e doutor da Igreja ? \"Bernardo? quer dizer
\"o que é forte como um urso?

Natural de Borgonha, Bernardo de Claraval foi uma personalidade religiosa marcante da época. Além de abade e administrador, destacou-se como místico, pregador, político, polemista, escritor, fundador de mosteiros, conselheiro de papas, reis e bispos. Devoto de Maria, deixou-nos uma das mais belas orações a ela dedicada: Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguém que tenha recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência ou reclamado vosso socorro tenha sido por vós desamparado. Animado com a mesma confiança, a vós, ó Virgem, entre todas singular, recorro como à mãe e de vós me valho sob o peso dos meus pecados me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minha súplicas, ó Mãe do Filho de Deus Humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Amém.