Primeira leitura: Is 7,10-14:
Eis que uma virgem conceberá.
Salmo: Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. 7c.10b):
O rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que ele possa entrar!
Segunda leitura: Rm 1,1-7:
Jesus Cristo, descendente de Davi, Filho de Deus.
Evangelio: Mt 1,18-24:
Jesus nascerá de Maria, prometida em casamento a José, filho de Davi.
Tema: Hoje tem início a preparação próxima do Natal, que vai até o dia 24 de dezembro.
A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: "José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados". Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco". Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa.
Comentário
Vamos fazer em primeiro lugar um comentário litúrgico-pastoral a estes textos bíblicos numa linha mais tradicional. Depois faremos uma nota crítica.
A passagem de Isaías faz ressoar esse anúncio cheio de esperança do nascimento de alguém que estará permanentemente inserido no meio do seu povo. Parece que essas palavras do profeta ao rei Acaz se deram em um contexto no qual as esperanças da manutenção da segurança do reino de Javé, eram centradas mais no poder político e militar, deixando de lado a confiança em Javé. Isaías viu as insistentes tentativas do rei para aliar-se aos seus vizinhos a fim de se defender das ameaças do Norte, que, por sua vez, se aliou a outros para defender-se da nação que no momento era a mais poderosa.
Para despertar de novo a confiança em Deus, o profeta se vale de um fato provavelmente histórico, a gravidez de alguma das donzelas do rei. Assim como essa jovem vai dar à luz um primogênito, do mesmo modo Deus vai enviar um descendente davídico que assumirá os destinos do povo, no meio do qual estará sempre; por isso o nome “Emanuel”, Deus conosco.
Com base nessa profecia, foi se formando a ideia de que o Messias vai nascer de uma virgem. Toda mãe que desse à luz o seu primogênito em Israel, albergava a esperança de ser a mãe do messias, tudo isso devido à própria terminologia empregada, tanto em hebraico como em grego e também em nossa língua. Quando Mateus relata a concepção de Jesus, faz eco desta profecia de Isaías, embora sem citá-lo textualmente.
A segunda leitura, tomada da carta de são Paulo aos Romanos, mais exatamente trata-se da introdução da carta. Paulo relata aos cristãos de Roma sua vocação de apóstolo, para a qual foi eleito por Deus mesmo. Para Paulo está claro que o evangelho que ele pregava é Jesus Cristo mesmo, sua pessoa, sua obra, sua morte e ressurreição.
É muito importante para o apóstolo sublinhar que este Jesus é descendente de Davi enquanto ao aspecto humano, porém que Deus lhe outorgou seu Espírito, constituindo-o Messias todo poderoso, Senhor Único, ressuscitando-o dentre os mortos. Outra coisa que Paulo acentua é que sua atividade evangelizadora foi outorgada por puro dom, por vocação; daí que sua preocupação tenha sido durante toda sua vida em dar a conhecer a boa notícia de Jesus Cristo, especialmente aos gentios.
No evangelho, Mateus narra a origem de Jesus Cristo. Maria estava desposada com José, mas ainda não viviam. Isso indica que estavam num período chamado desposório ou compromisso matrimonial, período que podia durar de seis meses a um ano, tempo prudente para o esposo construir ou montar a casa onde receberia a esposa. Nesse tempo a noiva continuava vivendo com os pais, dependendo de seu pai, até passar formalmente a depender de seu marido. A promessa de matrimonio ou desposório implicava completa fidelidade ao noivo; todo ato de infidelidade era adultério e como tal, podia ser castigado conforme a lei mosaica.
Nessas circunstâncias, narra o Evangelho, é que Maria fica grávida; porém esclarece dizendo que é “por obra do Espírito Santo”.
O fato é que José ficou mal na história; contudo, acrescenta Mateus, que “era um homem justo e para não expor Maria à infâmia, decide abandoná-la em segredo”. José poderia ter feito valer os seus direitos: exigir o castigo previsto por lei; contudo, sem dar-se conta, vai colaborando também ele com os planos divinos.
Nesses planos divinos nem tudo está garantido, pois neles também estão envolvidos a liberdade e a vontade humanas. É uma constatação que podemos fazer em toda a história da salvação partindo do próprio paraíso. Parece que os planos de Deus caminharam sobre o fio da navalha! Um exemplo disso o temos no relato de hoje de Mateus.
Nesse plano, porém, existe sempre uma coisa muito importante que se chama diálogo. Precisamente no diálogo com o anjo que fala em sonhos a José, percebe-se como Deus vai incorporando seu projeto a suas próprias criaturas. O silêncio da aceitação de José é a resposta que Deus pede a nós também. Propomos muitas travas e condições à obra de Deus. Às vezes tentamos “corrigir” a maneira como Deus age: não é necessário! Basta que ponhamos nossa força e vontade a serviço do plano de Deus, ele sabe como o faz.
Ainda na passagem de hoje, torna-se fraca a pessoa de José em sua dúvida, em sua aceitação de ser pai de Jesus e de colocar o nome; a verdade é que Maria, que apenas é nomeada, está também aí recordando-nos sua atitude de fé e submissão aos planos de Deus que são vida para o homem e mulher de todos os tempos.
Para grupos mais críticos ou formados, pode ser bom estudar a fundo o tema do significado da encarnação, tanto do mistério em si mesmo, quanto dos relatos evangélicos correspondentes. Hoje existem propostas teológicas muito interessantes que merecem atenção, como “A metáfora de Deus encarnado” de John HICK (tiempoaxial.org), ou “Jesus, filho de mulher” de John Shelby SPONG (na biblioteca de Koinonía, servicioskoinonia.org/biblioteca), o estudo sobre “As narrativas da Natividade de Jesus” de Mariano CORDÍ, em La RELaT (servicioskoinonia.org), número 381. Muitas outras ideias e sugestões podem ser vistas em servicioskoinonia.org/pastoral.
Oração
Ó Pai, bondoso e cheio de misericórdia, quando fazemos nossa própria vontade nos perdemos, dilui-se o sentido de nossa vida e arrastamos muitos à perdição; que ao contemplar a figura e Maria e José, obedientes à vossa vontade, sintamos também a alegria e a necessidade de aderir a Vós, nosso ser e nossa vontade. Nós vos pedimos por Jesus Cristo nosso Senhor, amém!
Santo do Dia
Nossa Senhora do Ó ou do Bom Parto
A devoção a N. Senhora do Ó ou do Bom Parto (Expectação) remonta a S. Ildefonso, bispo de Toledo. Esse título repousa no fato de a letra O ser o símbolo de Deus. Ou também, como querem outros, advém das antífonas rezadas durante o Advento, que repetem com freqüência a exclamação Ó! É invocada com a seguinte oração:
Ó Maria Santíssima, vós que compreendeis perfeitamente as angústias e aflições das pobres mães que esperam um filho, especialmente nas incertezas do sucesso ou insucesso do parto. Olhai para mim, vossa serva, que na aproximação do parto sofro angústias e incertezas. Dai-me a graça de ter um parto feliz. Fazei que meu bebê nasça com saúde, forte e perfeito. Eu vos prometo orientar meu filho, sempre pelo caminho certo, o caminho que o vosso Filho, Jesus, traçou para todos os homens, o caminho do bem. Virgem, Mãe do Menino Jesus, agora me sinto mais calma e mais tranquila porque já sinto a vossa maternal proteção. Nossa Senhora do Bom Parto, rogai por mim.