Primeira leitura: Atos 8,5-8.14-17:
Então lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo.
Salmo: Sl 65(66),1-3a.4-5.6-7a.16.20 (R.1-2a):
R. Aclamai a Deus, toda a terra, cantai a glória de seu nome.
Segunda leitura: 1 Pd 3,15-18:
Estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir.
Evangelio: Jo 14,15-21:
Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito.
Tema: 6º Domingo da Páscoa
Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos. Voltarei a vós. Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, me tornareis a ver, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e manifestar-me-ei a ele.
Comentário
A 1ª leitura, tirada do livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta-nos Filipe pregando aos samaritanos em sua capital. É uma notícia inusitada se considerarmos a inimizade tradicional entre judeus e samaritanos, tão presente nos evangelhos, em passagens como a parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37), ou a conversa de Jesus com a samaritana (Jo 4,1-42) ou em outras passagens mais breves (Mt 10,5; Lc 9,51-56; 17,16; Jo 8,48). Os judeus consideravam os samaritanos como hereges e estrangeiros (cf. 2Rs 17,24-41) pois, embora adorassem o único Deus e vivessem de acordo com sua lei, não queriam render culto em Jerusalém, nem aceitavam nenhuma revelação nem outras normas que não fossem as do Pentateuco. Os samaritanos pagavam aos judeus com a mesma moeda, pois os haviam hostilizado nos períodos de seu poderio e haviam até destruído seu templo no monte Garizim. Por tudo isto parece-nos surpreendente encontrar Filipe pregando entre eles, em sua própria capital, e com tanto sucesso como sugere a passagem que lemos hoje, até concluir com um final maravilhoso: que sua cidade, a dos samaritanos, "encheu-se de alegria ".
Esta obra evangelizadora que rompe fronteiras nacionais, que supera ódios e rivalidades ancestrais, provocando em troca a unidade e a concórdia dos fiéis, é obra do Espírito, como comprovam os apóstolos Pedro e João, que com sua presença na Samaria confirmam o trabalho de Filipe. Trata-se de uma espécie de Pentecostes, de vinda do Espírito sobre estes novos cristãos procedentes de um grupo tão desprezado pelos judeus. Para o Espírito, não há barreiras nem fronteiras. É Espírito de unidade e de paz.
A 2ª leitura continua sendo, como nos domingos anteriores, uma passagem da 1ª Carta de Pedro. Escutamos uma exortação que se repete com freqüência e nos recorda que os cristãos devemos estar dispostos a "dar razão de nossa esperança" a quem nos pedir. Por que cremos, por que esperamos, por que nos empenhamos em confiar na bondade de Deus em meio aos sofrimentos da existência, às injustiças e opressões da história? Porque experimentamos o amor do Pai, e porque Jesus Cristo padeceu por nós e por todos, para dar-nos a possibilidade de chegar à plenitude de nossa existência em Deus. Por esta mesma razão o apóstolo nos exorta a mostrar-nos pacientes nos sofrimentos, contemplando aquele que é modelo perfeito para nós, Jesus Cristo, o justo, o inocente, que sendo supliciado orava por seus verdugos e os perdoava. A breve leitura termina com a menção do Espírito Santo por cujo poder Jesus Cristo foi ressuscitado dos mortos.
Faltando quinze dias para terminar a cinquentena pascal, a Igreja começa a preparar-nos para a grande celebração que a concluirá: a de Pentecostes, a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos. A manifestação pública da Igreja. Poderíamos dizer que é sua inauguração –teologicamente falando, não historicamente falando–. Na leitura do Evangelho de João, tirada dos discursos de despedida de Jesus, que encontramos nos capítulos 13 a 17 de seu evangelho, o Senhor promete a seus discípulos o envio de um "Paráclito", um Defensor ou Consolador, que não é outro senão o Espírito mesmo de Deus, sua força e sua energia, Espírito de verdade porque procede de Deus que é a verdade em plenitude, não um conceito, nem uma fórmula, mas o mesmo Ser Divino que deu a existência a tudo o que existe e que conduz a história humana à sua plenitude.
Os grandes personagens da história permanecem na lembrança agradecida daqueles que sobrevivem, recebendo as consequências benéficas de suas obras em favor da humanidade. Cristo permanece em sua Igreja de uma maneira pessoal e efetiva: por meio do Espírito divino enviado sobre os apóstolos e que não deixa de alentar os cristãos ao longo dos séculos. Por isso pode dizer-lhes que não os deixará sozinhos, que voltará com eles, que pelo Espírito estabelecerá uma comunhão de amor entre o Pai, os fiéis e Ele mesmo.
O "mundo" (que na linguagem de João tem um sentido bem negativo, já sabemos) não pode receber o Espírito. O mundo da injustiça, da opressão contra os pobres, da idolatria do dinheiro e do poder e das vaidades, das quais tantas vezes nos orgulhamos. Desse mundo Deus não pode fazer parte, porque Deus é amor, solidariedade, justiça, paz e fraternidade. O Espírito anima aqueles que se comprometem com estes valores, esses que são os discípulos de Jesus.
Esta presença do Senhor ressuscitado em sua comunidade há de manifestar-se num compromisso efetivo, numa aliança firme, no cumprimento de seus mandatos por parte dos discípulos, única forma de tornar efetivo e real o amor que dizemos professar ao Senhor. Não é uma volta ao legalismo judaico. No evangelho de João já sabemos que os mandamentos de Jesus se reduzem a um só, o do amor: amor a Deus, amor entre os irmãos. Amor que deve ser criativo, operativo, salvífico.
Oração
Deus, nosso Pai, que em Jesus de Nazaré, nosso irmão, fizeste renascer em nós a esperança de um novo céu e uma nova terra; pedimos-te que nos transformes em apaixonados seguidores de sua Causa, de modo que saibamos transmitir a nossos irmãos, por palavras e obras, as razões da esperança que sustenta nossa luta. Por Cristo nosso Senhor. Amém.
Santo do Dia
S. Matias Apóstolo
séc. I ? apóstolo ? \"Matias? quer dizer \"presente de Javé?
É o único apóstolo não escolhido pessoalmente por Jesus, mas sim pela comunidade primitiva cristã. Conforme Atos 1,15-26, após a ascensão, Matias foi escolhido para completar o grupo dos Doze, em substituição a Judas. Como afirma João Crisóstomo, sua escolha não obedeceu a ditames humanos, mas aos desígnios de Deus (At 1,21-22): E rezaram juntos, dizendo: Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos (At 1,24). Tu, nós não. Com acerto o invocam como aquele que conhece os corações, pois a eleição deveria ser feita por ele e não por mais ninguém. Assim falavam com toda a confiança, porque a eleição era absolutamente necessária. Não disseram: \"Escolhe?, mas Mostra-nos quem escolheste (At 1,24). Bem sabiam que tudo está predestinado por Deus...? (Liturgia das horas. v. II. op. cit. p. 1.580).